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Ana Bernal

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Ana Bernal é advogada criminal, palestrante, colunista, consultora e professora. Atua também como diretora-secretária geral da diretoria executiva da OAB São Paulo
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Independência financeira feminina: por que precisamos discutir esse tema

A igualdade de gênero passa por dar às mulheres a oportunidade de conquistarem a independência financeira. Entenda quais são os fatores impeditivos

Por Ana Bernal, colunista de VOCÊ RH
21 out 2021, 07h00
Mulher triste com as mãos no rosto.
 (Rodnae Productions / Pexels/Divulgação)
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Não é novidade que a independência financeira é uma ferramenta de emancipação em várias situações e que está intrinsecamente ligada à autoestima. Afinal, quando produzimos e criamos, nos sentimos capazes, pertencentes à sociedade e, dessa forma melhoramos nossa autoestima. E as mulheres que não dependem financeiramente de seus parceiros ou de qualquer outra pessoa têm, em geral, mais liberdade de escolha.

Muitas das que têm essa independência acabam mantendo relacionamentos abusivos e violentos, pois não possuem uma forma de sustento próprio. Às vezes, o medo de não ter como sustentar um filho sozinha também impacta na decisão de um divórcio, ou separação, já que a dependência financeira aliada à emocional desencoraja essa mulher a tomar tal decisão.

Mas o que impede a mulher de conquistar a tão sonhada independência financeira? Destaco três fatores importantes que prejudicam tanto o crescimento profissional, quanto o ingresso no mercado de trabalho:

Conflito de prioridades

É difícil equilibrar maternidade, casa, família e trabalho. A mulher ao conquistar projeção profissional, geralmente não se liberta do padrão da mãe perfeita, e se sente culpada por estar ausente aos filhos. E quando na companhia dos filhos, sente que está sendo má profissional. Ou seja, vive um sentimento de culpa, que é antagônico, entre ser profissional e ser mãe.

Maternidade

A maternidade vem, muitas vezes, com o sentimento ambíguos entre a carreira e ser mãe. É por isso que a maioria das mulheres faz uma vida de equilibrista para conciliar os dois papeis de forma muito inspiradora. Isso porque é da mulher, na maioria das relações, a responsabilidade de cuidar dos filhos, junto com o medo de uma demissão. Observamos que cada vez mais mulheres optam pela maternidade após os 40 anos de idade.

De acordo com o Ministério da Saúde, houve um aumento de 49,5% nas mães com essa idade nas últimas duas décadas. Esse movimento é explicado porque as mulheres querem a conquistar sucesso profissional e estabilidade financeira para então decidir formar uma família. Pesquisas apontam que muitas mulheres se afastam da carreira para ter o primeiro filho, e uma grande parte não retorna ao mercado – fator que pode frear as ambições da mulher, de forma até inconsciente, abrir mão de seu espaço profissional.

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Machismo

O Brasil tem um dos alto nível de disparidade salarial: em iguais condições de idade e nível de instrução, as mulheres ganham 30% menos que os homens, muito embora, destaquemos, que existe previsão legal que proíbe tal prática. As mulheres já são maioria da população, (51% de acordo com o IBGE em 2010), têm mais educação formal (em média 8 anos de estudo, para 7,6 anos dos homens), mas ocupavam 44% das vagas de emprego registradas no país em 2016. Ou seja, elas são mais educadas formalmente e mais qualificadas para as vagas, ainda assim, o número de mulheres desempregadas é maior que o de homens. Já quando falamos das posições de liderança, muito embora a porcentagem de mulheres CEOs (diretoras executivas) no Brasil tenha crescido, elas ainda representam tão somente 3% dos cargos mais altos.

Fatores morais e culturais impedem ainda a mulher de ganhar o mesmo que o homem, já que o mundo corporativo carrega um machismo velado, não diferente da sociedade em geral. As mulheres se mantiveram durante décadas, restritas aos serviços e, cuidado com os filhos, ou seja, se manteve por várias gerações em um estado de dependência e subordinação. Foi na segunda metade do século 19 (XIX), que elas iniciaram pequenas revoltas, reivindicando melhores condições de trabalho, direitos políticos e sociais, organizando-se em movimentos femininos operários protestaram na Europa e Estados Unidos.

E uma marca profunda na história se deu quando se substituiu o trabalho artesanal pelas máquinas industriais e, consequentemente, as precárias condições do trabalho, em especial, o feminino, que era considerado mais barato que o masculino por ter capacidade produtiva inferior à do homem.  Começaram as mulheres a ser aceitas para o trabalho em funções como tecedeiras, fiandeiras, ou seja, posições sem destaque. Já no Brasil somente em 1988 foi promulgada a CF, a qual em seu artigo 5º dispõe que: “Homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações”.

Como mudar essa realidade?

Uma das formas de a mulher iniciar essa independência pode ser com uma divisão de tarefas equilibrada, o que ajuda a mulher a não se sentir dividida entre carreira e maternidade. A mulher não deveria sentir que está falhando, pois todas as profissionais e mães, de alguma forma acabam dando conta de ambas as tarefas. Elas não precisam ser “supermães” ou “superprofissionais”, apenas boas mães e profissionais – ou as melhores possível.

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É importante não ter medo de lutar contra os preconceitos dos quais as mulheres ainda são vítimas e que as fragilizam; ter coragem para sair da relação abusiva, pois está provado que a mulher nesse tipo de relação têm muita mais dificuldade em se inserir e se manter no mercado de trabalho. Manter-se afastada ou sair de relacionamentos abusivos é fundamental para que a mulher tenha autonomia financeira para decidir seu futuro, seja mudando na profissão, se assim desejar ou empreendendo. Afinal, mulheres com independência financeira têm uma vida mais confortável, se planejam e têm capacidade de alcançar seus objetivos, como ampliar seu patrimônio e planejar sua aposentadoria. Portanto, apesar de tal conquista ainda enfrentar diversos obstáculos, a luta pela igualdade no mercado de trabalho, pela igualdade de oportunidades e salarial, é um caminho sem volta.

Discussão fundamental

Embora as mudanças ocorram gradativamente, ainda devemos discutir desigualdade salarial e de oportunidades de gêneros. O machismo segue existindo, apesar de mulheres estarem cada vez mais independentes e conquistando mais o seu espaço no mercado de trabalho e na sociedade, algo que por anos e gerações lhes foi cerceado.

Precisamos lembrar que as conquistas femininas do passado devem nos fortalecer para avançarmos e, ocuparmos os espaços, e, de uma vez por todas, por fim à sub-representação das mulheres nos espaços corporativos e de poder. Nesse sentido, precisamos ter um olhar atento para que as meninas possam ter sua liberdade financeira, sendo fundamental repensarmos o que ensinamos, para que evitemos reproduções de crenças culturais, com incentivo a uma visão menos ultrapassada sobre o papel feminino, ajudando-as a tomar decisões que levem a uma sociedade mais igualitária e coesa, pois mesmo quando o salário de uma mulher é maior do que o de seu marido ou companheiro, a figura masculina, ainda é quem decide como gastá-lo.

Assim, a independência financeira da mulher deve acontecer com a igualdade salarial (o que mais a afasta da igualdade de oportunidade de gêneros, a meu ver), bem como a igualdade de gêneros. Não olvidando que a desigualdade salarial entre homens e mulheres é um problema social que muitas pessoas sequer têm a real dimensão.

Assinatura de Ana Bernal
(VOCÊ RH/VOCÊ RH)
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