Aposentadoria não precisa ser o fim da carreira: veja como se reinventar
Projetos temporários, mentorias, aulas... Opções não faltam para quem chega à terceira idade com vontade de continuar aprendendo – e ensinando.
Certo dia, limpando a casa de uma tia que faleceu, vi um recorte antigo de jornal que ela havia guardado com muito zelo. A página estava praticamente intacta. Entre as matérias da publicação, um trecho específico me incomodou. Em uma reportagem sobre uma ocorrência policial, o jornal relatava que a vítima era “uma idosa de 42 anos”.
Como já passei um pouco dessa idade, a informação despertou em mim diversas reflexões. Lembrei, por exemplo, do número de executivos e executivas que me procuram para pedir conselhos sobre o seguinte dilema:
“Estou prestes a completar 60 [ou 65] anos. Pelas políticas da minha empresa, ao chegar nessa idade, preciso anunciar minha aposentadoria e iniciar o processo de sucessão. Poderei contar com um plano de previdência, mas o que faço depois desse desligamento compulsório? Pergunto isso porque minha renda vai cair, mas também porque sinto que ainda tenho disposição, conhecimento e experiência para compartilhar.”
Em casos de aposentadoria, alguns profissionais optam por realmente parar de trabalhar e, então, se dedicar a si mesmo ou à família. E está tudo bem com essa decisão. Mas se esse não é o seu caso, listo a seguir algumas opções para que você se mantenha em alguma atividade profissional.
1. Ocupar uma posição semelhante em outra empresa
Uma ótima opção para quem gosta da rotina, das exigências e dos benefícios da posição que ocupa. Também é um caminho para manter o padrão da renda por mais tempo, enquanto segue se desenvolvendo, ampliando contatos e fortalecendo relacionamentos. No entanto, à medida em que os anos passam, é preciso atenção para lidar com barreiras etárias e culturais de algumas companhias.
Se a decisão for mesmo de buscar uma posição semelhante em outra empresa, investigue quais são as políticas de aposentadoria e sucessão da companhia desejada. Vale considerar que também existem ótimas oportunidades em empresas de pequeno e médio porte, assim como há projetos muito interessantes fora dos grandes centros.
Caso sua estratégia seja se candidatar a cargos inferiores ao último que ocupou, no momento da aposentadoria, tenha o cuidado de estruturar um discurso que fundamente bem a sua decisão. Isso é essencial para que o empregador não fique com a sensação de que você deixará a empresa por qualquer cargo ou salário maior.
2. Ingressar no mercado de projetos temporários
Em projetos temporários, a pessoa que já ocupou posições executivas tem a oportunidade de ser valorizada pelo conhecimento especializado e pela experiência. Nesse modelo de trabalho, existe a possibilidade de atuar com diferentes empresas e setores, além de desfrutar de flexibilidade de tempo. Há potencial de altos ganhos, mas a renda pode ser variável, o que exige um alto poder de previsão e administração das finanças. Requer, ainda, habilidade para construir e manter a própria reputação.
3. Atuar em conselho consultivo ou administrativo
Ocupar um cargo em conselho é uma oportunidade para exercitar a influência estratégica, enquanto estabelece e mantém contato com outras pessoas igualmente influentes. É uma boa mescla de tempo reduzido de dedicação às atividades diárias com boa remuneração, mas pode envolver responsabilidades legais. É um bom caminho para quem deseja se manter em atividade, sem gestão de pessoas ou da operação. No entanto a participação nesses grupos não é tão simples, pois depende diretamente de reputação, legado construído e networking.
4. Empreender
É um caminho para ter total autonomia do tempo e da rotina. Também pode colocar a pessoa mais no comando da própria renda. Uma possibilidade de oferecer produtos e/ou serviços aos clientes com opções ou dinâmica que estejam alinhadas com seus valores e paixões pessoais. Porém, exige um bom mapeamento dos riscos financeiros, de mercado e de gestão de pessoas, entre outros. Em alguns casos, a dedicação intensa só acontece nos primeiros anos, mas a atenção ao negócio sempre estará entre as suas prioridades do dia a dia.
5. Oferecer serviço de mentoria ou coaching
Dedicar-se a orientar outros profissionais pode ser um caminho para compartilhar tudo o que foi aprendido e experimentado. Quem se dispõe a atuar nessa área também tem a oportunidade de melhorar como pessoa e profissional. É um trabalho cercado de propósito e que oferece flexibilidade de tempo, mas a estabilidade na remuneração pode ser um desafio. Dependendo da atuação, algumas certificações formais são recomendadas – ou necessárias.
6. Palestrar ou ministrar aulas especiais
Conheço executivos que têm atuado como palestrantes ou professores convidados em instituições de ensino. Alguns conquistam essa oportunidade, inclusive, nas universidades em que se graduaram. É uma experiência que costuma ser muito gratificante pela oportunidade de compartilhar reflexões, conhecimentos e experiências com pessoas interessadas em evoluir na carreira. Em alguns casos, a remuneração atrativa pode demorar a vir, mas a flexibilidade na agenda permite complementar a renda com outros projetos. Pode exigir, no entanto, adaptação a boas práticas de didática e a ambientes acadêmicos.
Perguntas para se fazer antes de decidir
Não há um único caminho a ser seguido após uma aposentadoria. Por isso, sempre que um executivo ou uma executiva me procura para essa conversa, eu busco estimular e ampliar a reflexão dessas pessoas.
Com base nas conversas que já tive, listo a seguir alguns questionamentos que podem te ajudar a se decidir ou orientar alguém que precise desse apoio:
- Quais são as característica da vida que você gostaria de viver após a aposentadoria?
- Quais são os valores que você não quer abrir mão em prol da carreira?
- Quais caminhos profissionais, como os que citei acima, te interessam?
- Considerando essas possibilidades, quais são os prós que te animam?
- Quais são os contras que você terá mais dificuldade para lidar?
- O que te energiza em um dia de trabalho?
- O que te desmotiva quando está trabalhando?
- Você prioriza estabilidade ou não se importa com a perspectiva de correr em busca de oportunidades?
- Você gosta do dia a dia na empresa com as pessoas ou não se importa de apenas ingressar na estratégia do negócio?
- Quais ajustes você precisa fazer no seu currículo e nas suas redes sociais para se alinhar melhor a esse novo momento?
Décadas atrás, diferentes fatores faziam com que o encerramento das atividades profissionais aos 60 anos fosse praticamente uma certeza. Hoje, já não é mais assim. Com a longevidade estendida, muitas pessoas com essa idade ou mais seguem extremamente aptas a trabalhar se assim quiserem.
É importante que tanto profissionais quanto empregadores e headhunters tenham um olhar mais sensível para esse tema. Pois inúmeros projetos têm muito a ganhar com a experiência e o conhecimento dessas pessoas.
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