Mudança x transição: o que Louise Bourgeois tem a nos ensinar
A história dessa artista plástica, que fez sua primeira exposição aos 71 anos, revela que transformações no trabalho exigem paciência, técnica e propósito.
Louise Bourgeois foi uma das artistas mais influentes do século 20, mas o reconhecimento só veio mais tarde, depois dos 70 anos. Durante décadas, ela viveu entre a criação e o silêncio: cuidava da família, esculpia quando podia. Transformava em arte suas dores mais íntimas: a traição do pai, a morte precoce da mãe, o sentimento de exílio, as crises de identidade.
A trajetória dessa artista plástica é mais do que uma história de superação. É uma metáfora poderosa para quem vive processos de mudança profissional ou de liderança. Porque mudar é algo que acontece do lado de fora: um novo cargo, uma nova empresa, um novo desafio. Já a transição, a verdadeira travessia, é interna. É o processo emocional, muitas vezes invisível, de nos despedirmos de quem fomos para dar espaço a quem estamos nos tornando.
Louise dizia: “a arte é uma garantia de sanidade”. Criar era sua forma de sobreviver por dentro. Em silêncio, ela elaborava, transformava, esperava. Não tinha pressa. E talvez esse seja um dos maiores aprendizados que sua história oferece aos profissionais: entender que nem toda transformação se traduz em resultados imediatos. Há um tempo interno, subjetivo, que precisa ser respeitado.
Aos 71 anos, Bourgeois realizou sua primeira grande exposição no MoMA. Aos 78, criou Maman, a escultura monumental da aranha feita em homenagem à mãe: forte, silenciosa e protetora. A aranha, que tece e retece sua teia todos os dias, é também uma imagem simbólica da vida profissional. Um trabalho em constante construção, que exige paciência, técnica e propósito para seguir criando, mesmo quando o fio parece frágil.
O crescimento que vem da transição no trabalho
Trago o tema para essa coluna porque noto que, no mundo corporativo, fala-se muito sobre gestão da mudança: planos, cronogramas, indicadores. No entanto, refletimos pouco sobre gestão da transição, que é aquilo que acontece dentro de cada pessoa impactada por algo que mudou.
A mudança é estrutural, visível, mensurável. A transição é emocional, subjetiva e profundamente humana. É o que acontece quando alguém deixa de ser o que era – um gestor, uma especialista ou uma liderança consolidada – e ainda não sabe exatamente quem será na próxima fase. É nesse espaço entre identidades, muitas vezes desconfortável, desconfortável, que o crescimento acontece.
Louise Bourgeois nos lembra que não há idade, cargo ou momento ideal para florescer. Que o processo de se reconhecer pode levar uma vida inteira, que recomeçar não é sinal de fraqueza. É, na verdade, um ato de coragem e vitalidade. “Eu estou começando de novo, todos os dias”, dizia ela.
Talvez essa seja a frase que toda liderança devesse manter por perto. Porque, no fundo, liderar é isso: tecer, desfazer e tecer de novo – com a mesma coragem de quem transforma dor em arte e mudança em sentido.







