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Jackie De Botton

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Diretora criativa da The School of Life
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O que esqueceram de nos ensinar na escola

Em meio a tantas horas em salas de aula, conceitos e noções fundamentais para a vida são negligenciados pelas redes de ensino

Por Jackie de Botton, colunista de VOCÊ RH
7 mar 2023, 13h13
Três jovens estão sentados ao redor de uma mesa em seus computadores
 (Unsplash/Brooke Cagle/Divulgação)
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á pessoas que tratam a educação com uma seriedade ímpar. Reúnem esforços, recursos, professores, educadores e instituições de ensino em prol do desenvolvimento das próprias mentes ou da próxima geração. Em algumas famílias, até que complete 21 anos ou mais, alguns jovens são orientados a apenas estudar. Nesses lares, o dever de casa tem o poder de um sacramento.

No entanto, apesar desse foco na educação, ainda são muito raras as rodas de conversa com uma importante reflexão: como é que, em meio a tantas horas em salas de aula ou em aprendizados online de escolas e universidades, certos conceitos e noções fundamentais para a vida são negligenciados pelas redes de ensino? Como é que há tanto tempo para cálculos, estudos sobre solo, política e poesias e pouca ou nenhuma dedicação para uma série de quebra-cabeças de pensamentos e sentimentos na jornada para a maturidade emocional?

Existem, atualmente, poucos lugares para onde esse pensamento possa ir. O debate está predominantemente focado na melhor forma de oferecer educação a uma criança; não no que ele ou ela deveria ser educado. No mundo ideal, os currículos escolares da infância e juventude deveriam considerar também a dinâmica de uma engenharia reversa dos dilemas reais da vida adulta. Seria uma interessante forma de crescermos com melhores noções sobre como ter melhores relacionamentos com outras pessoas, navegar pelas ruas estreitas da nossa mente, fazer melhores escolhas na vida e na carreira, as tristezas de nossas carreiras e lidar com as tensões familiares e os terrores da mortalidade…

Digo isso porque, ao longo desses 10 anos à frente da The School of Life Brasil, ao lado da minha sócia Diana Gabanyi, tenho tido muitas provas de que a raiz de muitas frustrações das pessoas, na vida e na carreira, não está na falta de uma ou mais habilidades técnicas. Mas sim na incapacidade de, por exemplo, compreender as dobras da própria mente, lidar com filhos, colegas, amores, líderes e liderados, adquirir um grau saudável de autoconfiança, controlar a calma ou praticar a autocompaixão e a empatia… Ainda que a gente não se dê conta, são os fracassos nessas áreas da vida que, muito mais do que qualquer coisa que possamos aprender nas melhores escolas e universidades, garantem a traição repetida às tentativas da humanidade de ter esperança em si mesma.

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Como herdeiros de uma filosofia romântica equivocada, assumimos que devemos ser guiados no reino emocional por nossos instintos, por nossos sentimentos não ensinados, que não se pode instruir ninguém em amor ou sabedoria, realização ou bondade, que tudo isso deve ser ocasional e fruto esporádico do tempo, não conceitos que possam ser colhidos sistematicamente desde o início da vida. O custo coletivo dessa renúncia é vasto. Isso significa que cada nova geração deve colidir novamente com problemas que, em teoria, já estão resolvidos nas mentes de seus predecessores mais velhos. Todo jovem é novamente compelido a descobrir, nos soluços da meia-noite, o que já é teoricamente muito conhecido sobre terminar relacionamentos, encontrar uma carreira ou lidar com pais feridos, mas bem-intencionados. Nós nos instalamos em nossas ilhas individuais e nos forçamos – com dor desnecessária – a reinventar a roda e redescobrir o fogo.

O sistema educacional é, pelo menos nesse sentido, o provedor de uma miopia voluntária. A frenética busca por capacitação técnica nos cegam para a necessidade de arranjar tempo para também aprender a história de nossa própria raiva e o domínio das fontes do desespero. É claro que muitas matérias do ensino regular são importantes para a vida e a carreira. Mas, no meu entender, todos deveríamos nos preocupar em oferecer a nós mesmos, aos nossos jovens e às nossas crianças mais conhecimento sobre habilidades comportamentais que, quando não são bem desenvolvidas, têm o poder de causar sérios problemas na vida de um adulto.

A ênfase na palavra “esquecer” no título deste artigo não é coincidência. Ela chama a atenção para as maneiras essencialmente aleatórias pelas quais deixamos tópicos importantes fora do escopo educacional padrão. Não há nenhuma razão boa ou interessante para termos de esperar tanto tempo para descobrir lições que podem fazer tanta diferença no nosso dia a dia. Não há necessidade de cada um de nós tropeçar na escuridão, muitas vezes no mesmo lugar, quando já existem relatos e teorias brilhantemente à nossa disposição.

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