Black Friday: Assine a partir de 1,49/semana
Continua após publicidade

“Tive um pouco da síndrome da impostora”, diz presidente da Philips

Patricia Frossard fala sobre os desafios à frente do cargo, os mitos ligados à gestão de pessoas e a importância da flexibilidade para o futuro dos negócios

Por Alvaro Bodas
Atualizado em 26 abr 2022, 10h31 - Publicado em 1 abr 2022, 06h43
 (/)
Continua após publicidade
A

paulistana Patricia Frossard está à frente da Philips do Brasil desde maio de 2019, quando assumiu o cargo de country manager e passou a ter cerca de 2 mil funcionários sob sua gestão. Em 2013, depois de 12 anos na PepsiCo, a advogada migrou para a Philips, inicialmente para ocupar uma posição na área jurídica. Em 2017, assumiu a liderança de compliance para a Philips América Latina e acumulou as duas funções, fortalecendo o posicionamento institucional e as relações da companhia com o governo e com outras organizações estratégicas para o negócio.

Agora um dos desafios de Patricia à frente da empresa é conduzir a consolidação da Philips como desenvolvedora e provedora de softwares para a área de saúde. Uma “mudança de chave” que aprofunda outra, ocorrida em 2011, quando a companhia deixou o mercado de iluminação, televisores, eletroportáteis e acessórios para entrar na produção de equipamentos para a área médica.

Toda essa transformação viu chegarem a pandemia de covid-19, a ampliação da prática do home office, o modelo híbrido de trabalho e o desafio de manter as pessoas engajadas durante um período tão difícil. Na conversa com VOCÊ RH, Patricia falou sobre engajamento, diversidade, equilíbrio entre vida pessoal e profissional, enfrentamento à pandemia e os mitos ligados à gestão de pessoas, entre outros assuntos.

Desde que assumiu como country manager, o que você mudou na gestão da Philips do Brasil?

Procurei trazer ainda mais diversidade para a empresa. A Philips já tem esse traço na cultura globalmente, mas coloquei isso como prioridade. Criamos um programa de estágio para pessoas a partir de 55 anos, pois acredito que é possível iniciar uma nova carreira nessa fase da vida. É um programa que permite a troca de experiências entre diferentes gerações, o que é muito enriquecedor. Outro programa é focado em pessoas de baixa renda, independentemente de gênero, etnia ou origem, o que acaba trazendo muito mais diversidade para dentro da empresa. Temos feito esforços também para trazer mais mulheres para nossa área de tecnologia, que tradicionalmente é mais masculina. Nos processos seletivos, sempre tem que ter pelo menos uma mulher entre os três finalistas. Em parceria com o governo do Ceará, estamos desenvolvendo uma escola de informática e tentando atrair mulheres para atuar nessa área futuramente. Mas tudo isso é um trabalho de médio e longo prazos, os resultados não são imediatos.

É verdade que você não acreditou quando soube que estava sendo cotada para a presidência?

Na verdade, eu nunca havia pensado nessa possibilidade. Acho que tive um pouco da chamada “síndrome da impostora”, e acredito que isso acontece com muitas mulheres. Nessas situações, os homens não têm dúvida, vão lá e aceitam na hora. As mulheres ficam mais inseguras, pedem tempo para pensar, conversam com o marido, os filhos e, muitas vezes, não aceitam por acharem que não vão conseguir equilibrar a vida pessoal e a profissional. Quando aceitei esse desafio, não negociei salário, mas negociei a agenda. Não abro mão de ir à academia de manhã, e toda quarta no fim da tarde tenho um compromisso com meu filho. É questão de organizar a agenda e ser fiel a ela. Eu tive muito apoio internamente e estou conseguindo conciliar.

Continua após a publicidade

Apesar de a maioria das empresas pregar o discurso da diversidade, grande parte ainda tem poucas mulheres em cargos de liderança. Qual é o caminho para mudar isso?

Sou advogada e vim da área jurídica. Desde que assumi como country manager, minha relação com a área de RH se intensificou muito. Conversamos praticamente todos os dias. Para promover diversidade e equidade de gênero é preciso ter uma estratégia bem definida, com métricas acordadas nos planos de desenvolvimento. Na Philips, nós temos os planos de carreira e os reavaliamos a cada três meses. Nos planos de sucessão, temos que prever a inclusão de mulheres, e é necessário também investir em capacitação e prepará-las para assumir mais cargos de liderança daqui a dois ou três anos.

Um estudo recente da PwC mostrou que 88% das empresas estão enfrentando um turnover superior ao período pré-pandemia. No Brasil, 70% delas registram pedidos de demissão acima das médias históricas. O que está provocando isso, na sua opinião?

Acho que, com a pandemia, as pessoas começaram a se questionar se o trabalho delas faz sentido, se pegar trânsito e trabalhar muito longe de casa faz sentido. Todo mundo passou a pensar mais em questões como saúde, doença, morte e o próprio sentido da vida. Felizmente, na Philips não houve esse problema de turnover. Já atuávamos parte em home office antes de 2020, e depois passamos a acionar mais o comitê de crise, e os líderes tomaram decisões rápidas, combatendo os efeitos da pandemia.

O que as empresas devem fazer para reter talentos?

É preciso entender o seu funcionário, mapear suas funções-chave, conhecê-los individualmente e saber o que é importante para cada um, quase que de forma personalizada. Entender o que “segura” aquela pessoa na empresa. Os benefícios não mudam muito de uma empresa para outra, então é preciso pensar nos diferenciais, desenhar planos de carreira, ter mentorias, coaching, dar oportunidades e desenvolver lideranças.

A Philips já adotava o modelo híbrido antes da pandemia. Como ficou a partir de 2020?

O home office sempre foi uma opção dada aos colaboradores, que podiam trabalhar uma ou duas vezes por semana em casa. O conceito combina a flexibilidade com a colaboração presencial, porque quando um grupo está reunido em uma mesma sala há uma fricção criativa e a geração de ideias necessárias para a resolução de problemas. Flexibilidade não é decidir entre o escritório e o online; significa escolher o espaço que funciona melhor para cada um, caso a caso. Agora estamos sugerindo que sejam três vezes por semana na empresa, mas cada um pode se adaptar. Recomendamos pelo menos um dia presencial. Teletrabalho 100% não funciona, porque o contato e o “olho no olho” são fundamentais.

Continua após a publicidade

E como manter o engajamento das pessoas no modelo híbrido?

Tudo isso é muito recente, precisamos ver como a pandemia e as pessoas vão se comportar. Quando ficamos 100% em casa, foi mais difícil manter o engajamento porque havia as questões familiares, o que é natural. Nós conseguimos manter o engajamento colocando as pessoas para conversar, trocando experiências, cada um contando o que funcionava no seu caso e dividindo impressões.

Como funcionaram essas sessões de conversa e troca de ideias?

Chamamos o projeto de #WeCareCalls. A princípio, organizamos as pautas em cinco pilares (Mental, Emocional, Físico, Social e Bem Comum), criamos o conteúdo e depois promovemos sessões com aulas de ioga, kickboxing, meditação, alimentação saudável, dicas de atividades para crianças, ginástica laboral e palestras com psicólogo. As calls eram de 30 minutos, a cada 15 dias, por videoconferência. Durante essas conversas falávamos sobre temas latentes na pandemia, como saúde física e mental e interação com a família. Tudo isso teve bastante participação dos colaboradores, que passaram a trazer as sugestões e apresentavam os temas para os colegas. Neste ano, a tendência é que as conversas sejam presenciais, porque as pessoas cansaram um pouco de reuniões virtuais.

O que aprendemos com a pandemia?

Apesar do distanciamento físico, vejo que as pessoas acabaram se aproximando mais. Eu mesma nunca fui muito de falar da minha vida pessoal no trabalho, mas, com o home office e as videoconferências, acabamos entrando nas casas uns dos outros, e a barreira entre o pessoal e o profissional caiu um pouco. O filho interrompe a reunião, o gato aparece na tela, você vê um quadro na parede do quarto daquela pessoa e acaba a conhecendo melhor. Isso nos aproximou.

Para conciliar o trabalho com a vida pessoal, você defende “impor a agenda”. Acha que isso é possível na maioria das empresas?

Sei que isso ainda é um tabu em muitas empresas, mas férias são férias, e fim de semana é fim de semana. Poucos assuntos não podem esperar alguns dias ou algumas semanas para serem resolvidos. Mesmo porque sempre tem alguém no seu lugar durante esse período. Isso precisa mudar, e é um papel da gestão. Os funcionários estão pressionando, priorizando a vida pessoal e o equilíbrio, tanto é que os pedidos de demissão aumentaram muito nos últimos anos. Se os líderes não enxergarem isso, vão perder talentos.

Continua após a publicidade

Quais são os mitos sobre liderança, carreira e gestão de pessoas, na sua visão?

O primeiro é que o salário resolve tudo e é o mais importante. Não é mais. Outro mito é que, quanto mais você trabalhar, mais será reconhecido e recompensado. As duas coisas não estão necessariamente conectadas. Se você não tem controle sobre o próprio tempo, isso é um defeito. Trabalhar 15 horas por dia é errado, não é produtivo.

Compartilhe essa matéria via:

Este texto faz parte da edição 79 (abril/maio) de VOCÊ RH.

Clique aqui para se tornar nosso assinante

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Black Friday

A melhor notícia da Black Friday

BLACK
FRIDAY

MELHOR
OFERTA

Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

Apenas 5,99/mês*

ou
BLACK
FRIDAY
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba Você RH impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de 10,99/mês

ou

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$71,88, equivalente a 5,99/mês.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.