RHadioCast: prevenção e combate ao assédio sexual nas empresas
Alessandra Costa, sócia da S2 Consultoria, argumenta: fechar os olhos para essa violência compromete os negócios a longo prazo.
Nesta quinta (24), publicamos mais um episódio do RHadioCast, o programa quinzenal de entrevistas da Você RH sobre as melhores práticas de gestão de pessoas. Desta vez, nossa convidada foi Alessandra Costa, psicóloga, sócia da S2 Consultoria – que atua na prevenção de fraudes e assédios no ambiente de trabalho –, e nossa colunista.
Convidamos Alessandra ao estúdio do RHadioCast para falar sobre um problema grave e persistente no mundo corporativo: o assédio sexual. Embora as empresas tenham a obrigação de incluir temas como a prevenção ao assédio nas atividades da CIPA, por exemplo, novas ações judiciais que pedem indenização por danos morais decorrentes dessa violência não param de surgir – o número aumentou 35% entre 2023 e 2024.
Por que as organizações falham em combater o assédio?
Para Alessandra, a cultura é o cerne da questão. “Os treinamentos são importantes, assim como os códigos de ética e os canais de denúncia. Mas tudo isso é ferramenta. Nós precisamos [combater o assédio no dia a dia,] impedir piadas machistas em reuniões, por exemplo, e quebrar o silêncio. Porque a responsabilidade de denunciar não é da vítima, do RH ou do compliance – é de todos. E as punições devem ser as mesmas para todos [,seja qual for o cargo do agressor].”
No novo episódio do RHadioCast, a psicóloga explicou o que configura assédio sexual, esclarecendo que essa violência não necessariamente ocorre de maneira presencial ou chega ao ato sexual de fato. Ela defendeu que o comportamento envolve três fatores: a escassez, ou seja, a transferência de determinada carência do agressor para a vítima; a racionalização ou normalização da violência; e o uso do poder de forma inadequada para a satisfação de desejos sexuais.
Alessandra também compartilhou dados de uma pesquisa realizada pela S2 Consultoria, que aplicou um teste de integridade em 24 mil profissionais e entrevistou assediadores confessos. A especialista contou, por exemplo, que 67% das denúncias de assédio sexual que chegam aos canais das empresas são falsas e que, em 89% dos casos, a agressão é inédita no histórico do assediador.
Ela defende que é preciso reestabelecer os agressores na sociedade. “Deve haver sanções, claro, mas não necessariamente precisamos demitir a pessoa, se ela demonstra arrependimento e vontade genuína de fazer diferente.” Alessandra contou casos reais e explicou como a S2 Consultoria investiga suspeitas de assédio sexual – como avalia se o agressor está mesmo arrependido, por exemplo, ou identifica que ele não sabia que determinado comportamento era inadequado.
(Dizemos “ele” ao nos referirmos ao assediador hipotético porque existem mais homens praticando assédio sexual nos ambientes de trabalho. Isso não significa, porém, que elas não possam assediar também. Mas esse tipo de violência envolve uma relação de poder – e a maioria dos cargos de liderança, sabemos, é ocupada por homens. Além disso, a cultura da masculinidade tóxica dificulta ou impede a denúncia de casos de assédio praticados por mulheres – outro obstáculo importante no combate do problema.)
Durante a entrevista, Alessandra também destacou o papel fundamental das organizações na prevenção ao assédio sexual. “Não devemos pensar apenas em sanções, mas também em educação. As empresas precisam demonstrar que repudiam esse comportamento e que ele não está coerente com seus princípios.”
Além disso, a especialista argumentou que as próprias companhias perdem quando falham ao lidar com esse problema, não só as vítimas. Há possíveis consequências como danos trabalhistas, aumento do turnover, crises de reputação, diminuição da produtividade e do engajamento…
Fica o alerta, então para o público da revista: “O RH é o guardião das empresas e tem uma expertise que deveria usar de forma mais estratégica para acolher os funcionários. É ele que, se bem-instruído e preparado, tem a oportunidade de oferecer informações para apoiar o compliance.”
Confira abaixo a entrevista completa, disponível no canal da Você RH no Youtube e no Spotify. E clique aqui para conhecer os episódios anteriores do programa.







