Gerente da consultoria Protiviti Brasil, Rayhanna Fernandes acredita que “especialista em ESG” não é o termo mais adequado para se referir a quem desenha e implementa tais estratégias. As três letras representam, afinal, áreas bem distintas: ambiental, social e governança corporativa. “É impossível dominar os três assuntos. Por isso, meu trabalho é coordenar uma equipe interdisciplinar.”
Rayhanna é advogada de formação. Sempre atuou com direito trabalhista, inclusive estudando o assunto em mestrado e doutorado. Mas, há cinco anos, encontrou uma vaga de analista em direitos humanos – e, desde então, enveredou para o ESG. Virou consultora sênior e master na companhia atual, até ocupar a cadeira de gerente.
Hoje, seu trabalho é entender como uma empresa funciona, cada uma de suas operações, para determinar como ela pode gerar impactos negativos ou positivos nas perspectivas das três letras. Definir um projeto e identificar quais pessoas de sua equipe podem ajudá-la a desenvolvê-lo, de acordo com suas especialidades – seja diversidade, economia circular, ética e compliance, gestão de água e muitas outras.
Tudo isso leva tempo. A gerente conta que, ao prestar consultoria para a empresa Três Corações, seu time entrevistou cafeicultores, colaboradores e lideranças da empresa. Ouviu funcionários de transportadoras e donos de supermercados via uma pesquisa online. Fez reuniões com a empresa para oferecer aprendizagem em ESG, mas também para definirem prioridades e combinarem os passos seguintes.
E aí estariam alguns desafios da profissão: traduzir o que é ESG para as empresas e fazer as lideranças comprarem a pauta de fato, às vezes trazendo dados financeiros e análises de riscos. “É um processo”, explica Rayhanna. “Se a empresa tenta abraçar o mundo, a chance de falhar é bem maior.”
Após definir as estratégias que mais combinam com a empresa contratante, a equipe responsável pelo projeto pode ajudar a implementá-lo e acompanhar o cronograma, avaliar o andamento das ações, estudar a situação novamente para recalcular a rota, se necessário, e verificar os resultados.
Trabalhando em uma consultoria como a Protiviti, essas etapas variam de acordo com aquilo que a contratante pediu. Gerentes de ESG de uma companhia específica têm, claro, atribuições semelhantes, mas atuação mais direcionada para as demandas dessa organização.
Olhar interdisciplinar
Rayhanna é expert em direitos humanos e pode falar com muita propriedade sobre trabalho infantil, trabalho escravo ou tráfico de pessoas. Afinal, são assuntos que estiveram presentes em sua trajetória acadêmica e profissional desde o início.
“Mas eu não estudei engenharia ambiental para saber a porcentagem de degradação do solo de uma mineradora, por exemplo. Então tenho de saber de tudo. Preciso ler e estudar muito, às vezes buscando cursos mais especializados: outro dia, fiz um sobre habilidades para uma transição verde, por exemplo, da Cambridge University [na Inglaterra]. E participo de fóruns, webinars, mesas redondas, palestras…”
Para ser gerente de ESG, não pode haver preguiça: “a atualização precisa acontecer o tempo todo”.
ATIVIDADES-CHAVE
Definir estratégias para melhorar a atuação de uma empresa nas áreas ambiental, social e de governança corporativa. Também ajudar a implementar tais ações, acompanhar seu desenvolvimento e avaliar os resultados.
QUEM CONTRATA
Empresas de quaisquer setores. Mas a demanda é maior no agronegócio, varejo, mineração, energia e farmacêuticas.
O QUE FAZER PARA ATUAR NA ÁREA
Pessoas com formações diversas podem trabalhar com ESG. Mas é aconselhável buscar capacitações específicas, como cursos livres, MBAs ou especializações de pós-graduação.
MÉDIA SALARIAL
De R$ 14,9 mil e R$ 33,3 mil, dependendo da expertise do profissional e o porte da empresa. (Fonte: Guia Salarial Robert Half 2024.)
Este texto faz parte da edição 91 (abril/maio) da VOCÊ RH. Clique aqui para conferir os outros conteúdos da revista impressa.