Em tempos de WhatsApp e Teams, centenas de mensagens são parte de nossa rotina diária – e as ligações, quase uma prova de amor. Basta deslizar um ícone de microfone ou clicar em dezenas de letras para dividir angústias ou compartilhar acontecimentos para alguém que poderá responder no tempo dela.
Será mesmo?
Ouço cada vez mais relatos de pessoas que se incomodam por não dar conta de tantas mensagens ao longo do dia. Que se sentem culpadas por escreverem de volta dias depois. Que trabalham em escritórios com uma regra: de que as mensagens sejam respondidas em, no máximo, três minutos.
Queremos fazer pedidos no nosso tempo para o interlocutor também atender no nosso tempo. De preferência, o mais rápido possível. Temos a impressão de que estamos nos comunicando o tempo todo. Mas, na verdade, estamos fazendo um grande monólogo.
O curioso – e alarmante – é que essa dinâmica impacta nossas relações, porque gera:
- A sensação constante de estar devendo algo – e a necessidade de justificar toda e qualquer demora;
- Uma codependência maior entre os profissionais (todos aguardam o “ok” de outrém para realizar uma tarefa);
- Uma tendência de denunciar demoras alheias aos superiores em questão;
- Uma constante transferência de responsabilidade (“eu enviei a mensagem, agora é com você”);
- A ideia de que estar online é estar disponível 24/7.
Pode parecer que tais desafios dizem apenas sobre a troca de mensagens no escritório. Mas não. Aos poucos, interações menos colaborativas, pautadas pela pressa e cobrança, vão se impregnando na cultura corporativa.
Ainda que possa parecer transgressor, ligar, ir até a mesa da pessoa ou marcar uma conversa sem pauta podem ser grandes passos para você se reconectar com quem recebe infinitas mensagens suas. E isso pode mudar até a qualidade das respostas.
Fazer tudo isso consome tempo. Nem sempre você e seu interlocutor estarão em um bom momento. Mas comunicar é se relacionar, não apenas produzir centenas de mensagens, numa via de mão única. Quanto mais treinarmos essa musculatura do diálogo, mais fortalecidas serão as relações – algo tão valioso na vida, seja no contexto profissional ou não.