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Como falar bem em público – e na internet

Acertar no mix de conteúdo, formato e performance é a fórmula da boa comunicação – algo essencial para sua carreira. O livro de Sheylli Caleffi ensina o caminho.

Por Redação
1 dez 2023, 12h46
 (Flume Creative/Getty Images/Reprodução)
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Acontece na política, nos podcasts e, claro, no ambiente corporativo: pessoas competentes perdem espaço para outras que não têm a mesma capacidade, mas se comunicam bem. Essa, afinal, é uma vantagem num mundo interconectado em que se expor de forma eficiente, transmitir suas mensagens com objetividade e magnetismo, faz a diferença entre ser ou não bem-sucedido. Seja qual for sua área de atuação.

Àqueles competentes em suas atividades, mas que falham na hora de se comunicar, há um alento: é possível, sim, aprender essa arte de provocar entusiasmo em quem os ouve.

Ensinar os passos dessa educação é o trabalho da professora de comunicação e oratória Sheylli Caleffi, autora do livro Não Enrole: Um guia para falar bem em público e na internet.

“Num evento como uma convenção de vendas há muito investimento: cenografia, hotel, banda… E quando os executivos sobem ao palco ninguém aguenta cinco minutos de tédio”, afirma Caleffi. “Foi aí que comecei a ser convidada para treinar quem precisa despertar a atenção do ouvinte e gerar engajamento. E é o que faço até hoje.”

Na obra, além de apontar o caminho das pedras, ela enfatiza um ponto essencial: o de que a boa comunicação sempre diz respeito ao outro. A pessoa com quem falamos deseja descobrir como resolver suas próprias dores. E entender isso é o que diferencia os grandes comunicadores dos demais.

A metodologia desenvolvida por Sheylli Caleffi se baseia em três pilares: conteúdo, formato e performance. É sobre esse primeiro que você vai ler no trecho a seguir.

Os ingredientes da sua apresentação

O conteúdo é o coração da sua mensagem. É o que você quer apresentar, a ideia ou o conhecimento que deseja transmitir para a sua audiência. E é a partir dele que você terá o roteiro-base para montar a sua apresentação.

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O conteúdo é composto basicamente de ideias, dados, argumentos, isto é, daquilo que o emissor foi capaz de acumular em termos de conhecimento e reflexão acerca de determinado assunto. Mas o pulo do gato do bom conteúdo – aquele que engaja quem está assistindo – mora em outro detalhe: o objetivo.

Só a partir do objetivo podemos, de fato, montar uma apresentação capaz de comunicar, encantar e até transformar uma audiência.

Imagine que você é nutricionista. Você estuda e conhece, portanto, as relações entre os alimentos e nutrientes ingeridos pelo ser humano, e possíveis estados de saúde e doença relacionados a eles.

Percebe como esse universo é imenso? Você pode falar desde saúde coletiva associada a políticas públicas e programas institucionais até alimentação específica para atletas ou crianças, passando pelos problemas decorrentes da forma como a indústria dos alimentos se estrutura na sociedade. Você pode falar sobre como se alimentar para aumentar as chances de ganhar um Prêmio Nobel de Literatura ou sobre como os hábitos alimentares das sociedades ditas modernas podem ser prejudiciais à saúde.

Dizer tão somente que vai dar uma palestra sobre nutrição não é suficiente. Porque esse conhecimento precisa de um objetivo. Um conteúdo que não tem objetivo não tem por que ser transmitido para alguém. O objetivo é o gol, a linha de chegada, aquilo que você quer provocar na sua audiência.

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E é aqui que entra a primeira pergunta crucial para você definir o conteúdo da sua apresentação: quem é a sua audiência? São mulheres de classe média de 20 a 40 anos? Quais são as preocupações desse grupo? Quais os valores dele?

Se não tiver essas informações, você pode fazer uma pesquisa. Vou contar um caso que pode inspirá-lo: em 2020, fui convidada para palestrar sobre comunicação em vídeo para um núcleo de educação pública com quase 7 mil professores. Me disseram que uma porcentagem expressiva deles, 20%, não fazia vídeos e aulas online, e isso era um problema para o núcleo, já que o ensino agora era remoto.

Para mim, era uma grande oportunidade poder contribuir para a carreira de tantos profissionais que admiro, e queria aproveitar o tempo de duas horas para ser o mais eficiente possível em ajudá-los. Então criei um formulário e o enviei uma semana antes da palestra para tentar compreender quais seriam os principais motivos que impediam aquela parcela do público de avançar em suas apresentações online.

(…) Criei várias frases e perguntava, numa escala de 1 a 5, se os profissionais de educação se identificavam ou não com elas. A linguagem era simples e direta: “Essa frase combina com você?”. E as respostas eram (1) “Combina menos” até (5) “Combina mais”. Assim, eu poderia escolher o conteúdo, o formato e a performance mais adequados. Vou colocar algumas das perguntas aqui e a porcentagem de identificação de mais de mil respondentes.

Não tenho um espaço adequado em casa para gravar um vídeo (34,5% se identificaram)

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Meu celular não tem câmera ou armazenamento para gravar vídeos (24,5% se identificaram)

Tenho medo de virar piada, de fazerem memes com meu vídeo (29% se identificaram)

Não estou feliz com minha aparência, gravar vídeos é constrangedor (20% se identificaram)

Eu me embaralho na hora de fazer o roteiro do vídeo (27,5% se identificaram)

Nos vídeos, parece que eu fico meio robótico (20,7% se identificaram)

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Acho um absurdo nos cobrarem que tenhamos de gravar vídeos como se fôssemos youtubers, basta sermos professores (18,6% se identificaram)

Odeio gravar vídeos, me acho péssimo (25,3% se identificaram)

Amo dar aula presencial, mas no vídeo fico superdesconfortável (36,5% se identificaram)

(…) Consigo me ver nos vídeos que gravo e aprimorar minha performance de voz e movimento (apenas 27% se identificaram)

Acredite se quiser, mas muita gente grava vídeos e não tem coragem de assistir, é bem comum!

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Eu me encontrei nessa de fazer vídeos, acho superprático, e o retorno dos alunos é ótimo

(apenas 12,8% se identificaram)

Com a pesquisa em mãos, eu podia traçar os objetivos e ter eficiência na apresentação, endereçando os principais temas. Agora eu sabia por que eles não gravavam os vídeos, podia conduzir a palestra de maneira que, ao final, eles pensassem: “Eu posso fazer isso, é mais simples do que eu imaginava!”.

O próprio formulário já me dava material para organizar meu conteúdo. O que fiz foi elencar em sequência os resultados da pesquisa.

Para o formato, organizei um exemplo prático para cada objeção apontada na pesquisa – alguma situação que havia acontecido comigo ou com algum cliente –, além de responder às dúvidas que surgiam na hora: como deixar um vídeo mais leve usando aplicativos gratuitos, por exemplo. Já previ que haveria improviso no meu formato.

Para a performance, como a apresentação era online, escolhi transmitir revezando entre o celular e o computador para mostrar a diferença de qualidade entre um e outro, e também os truques que faço para criar ambientes mais adequados para os vídeos. Eu literalmente andava pela minha casa mostrando como escondo a pia da cozinha ou coisas de que não gosto na hora de gravar.

Busquei ser a mais descontraída possível, sem usar maquiagem, com “roupa de ficar em casa”, para que se identificassem comigo como educadora.

(…)

A ideia: o coração do seu conteúdo

“Uma ideia comunicada adequadamente pode mudar para sempre a forma como as pessoas veem o mundo.” Essa citação é de Chris Anderson, fundador do TED Talks, empresa dedicada a organizar e promover palestras pelas Américas, Europa e Ásia com o intuito de compartilhar “ideias que merecem ser disseminadas”, nas palavras da própria organização. Pegue a dica dele: sua maior função como orador é transferir para a mente das pessoas uma ideia nova, uma forma de ver e experimentar o mundo ou determinado aspecto da realidade para o qual a audiência não havia atinado até então.

Nas palavras do próprio Anderson, uma ideia é um padrão de informações específico que pauta nossa forma de experimentar a realidade. 

Todos nós temos na nossa mente milhares dessas ideias, que vão se formando a partir da experiência. Temos ideia sobre o que é uma família, sobre religiões, dinheiro, grupos sociais. E essas ideias variam de cultura para cultura, de sociedade para sociedade, e também de indivíduo para indivíduo.

Uma pessoa pode enxergar o dinheiro como um mal inevitável, um instrumento de dominação e corrupção dos seres humanos, enquanto, para outra, o dinheiro pode ser uma meta, um símbolo associado a bem-estar e mérito individual.

Um bom comunicador pode atuar diretamente nesse sistema de crenças, modificando de forma parcial ou total uma ou muitas dessas ideias que todos nós temos. Se você transmite bem uma ideia para determinada audiência, por um instante ela passa a enxergar o mundo a partir da lente que você está propondo.

Em 2013, a médica brasileira Ana Claudia Quintana Arantes realizou uma palestra no TED Talks que emocionou a audiência e projetou seu nome na esfera internacional. Ana Claudia é médica especialista em cuidados paliativos. E em apenas 18 minutos ela conseguiu ressignificar a ideia que as pessoas da audiência tinham sobre a morte.

A sua principal meta como comunicador pode ser esta: fazer uma ideia nova brotar na mente da sua audiência.

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